Igreja de São Francisco
São Francisco de Pêra é uma igreja barroca, edificada na viragem para o século XVIII, mandada construir por uma comunidade de franciscanos que aqui se estabeleceram, e implanta-se, hoje, em pleno centro histórico da aldeia de Pêra.
O templo é de planta longitudinal, de nave única dotada de várias capelas laterais, e de capela-mor rectangular, por onde se acede à sacristia. A fachada principal é de pano único e ostenta, ao centro, o portal, que é de padieira recta moldurada. Sobrepõe-se-lhe um janelão rectangular e a empena é marcada por frontão triangular. Adossada à frontaria, pelo lado Sul, existe uma torre sineira, de secção quadrangular, comum a tantas outras que se edificaram um pouco por todo o país durante o século XVIII.
O interior do corpo é coberto por abóbada de canhão e não possui elementos assinaláveis. A capela-mor, rectangular e igualmente coberta por abóbada de berço, mas revestida a madeira policromada com pintura central alusiva à Imaculada Conceição, ladeada por numerosos elementos vegetalistas, possui retábulo de talha dourada, da fase joanina e, por isso, datável do segundo quartel do século XVIII. "De estrutura côncava, com tribuna central enquadrada por dois pares de colunas salomónicas, assentes em anjos atlantes" (FIGUEIREDO, 2001, DGEMN on-line), é ornamentado com cartelas que integram inscrições alusiva à Ordem de São Francisco. A tribuna axial tem trono escalonado interior, onde se expõe uma imagem de Nossa Senhora do Amparo (LAMEIRA, 2000, p.191). Ainda na capela-mor, de ambos os lados, existem dois pequenos quadros com cenas da Vida de São Francisco, que deveriam fazer parte de um anterior retábulo entretanto suprimido.
Apesar das escassas dimensões do templo e da evidente pobreza decorativa que hoje o caracteriza, esta igreja é um marco importante na História local das Ordens Mendicantes ao longo da Idade Moderna, na medida em que prova que o sítio e a conjuntura regional foram de tal forma relevantes, a ponto de atraírem uma comunidade franciscana. Na actualidade, só o seu retábulo-mor merece uma atenção mais cuidada. Ele foi parcialmente consolidado em 1964 e insere-se na ampla produção joanina de talha, modalidade artística que, como tem vindo a ser provado pelos estudos de Francisco Lameira, pode bem considerar-se a "arte maior" da província durante a vigência do estilo barroco (SERRÃO, 1999, p.323).